RELATO DE EXPERIÊNCIA DE UMA JOVEM RECÉM-INICIADA NA UMBANDA:
Quando abraçamos qualquer caminho religioso, voltamos os nossos olhos para outra realidade. Os preceitos levam os recém-chegados a outra compreensão do que é Umbanda. Antes de incorporar é preciso preparo e exercício constante da disciplina. A alimentação deixa de ser um ato mecânico de sobrevivência e passa a ser uma reverência ao sagrado. Ir ao mercado, por exemplo, é diferente, pois em algumas semanas não podemos comer de tudo.
As festas, os barezinhos e outros programas acompanhados de bebidas alcoólicas e excessos são substituídos por banhos, rezas e MUITO estudo. Os amigos às vezes se distanciam um pouco, pois podem achar que você só fala de religião, ou está mais “certinha”. Algumas vezes nos sentimos sozinhos, mas ganhamos clareza em nossas escolhas. E nas atividades em grupo no terreiro, descobrimos irmãos. E isso vale para a vida.
Ao invés de perambular pelo shopping a procura daquele jeans maravilhoso, passei a utilizar camisas de malha, calças brancas e chinelos como os looks de sexta-feira. Salto alto no fim de semana é pé no chão do terreiro. Perde-se um pouco a vaidade mundana e o excesso de sensualidade a que somos empurradas diariamente pela mídia e pelas vitrines.
A lavagem da roupa do santo (por ser branca) é mais trabalhosa e isto é um ritual, pois a baiana ou qualquer peça que usamos no terreiro é sagrada. Mesmo que você lave na mão ou a máquina.
Aquilo que eu dizia ou fazia cotidianamente, passou a ser pesado e medido depois que comecei a participar ativamente das atividades do terreiro. Não se pode louvar a um Preto Velho, por exemplo, e agir com arrogância ao sair da gira. Ou então, organizar uma homenagem para Ibeji com o coração cheio de raiva. As minhas emoções passaram a ser filtradas e mesmo nos momentos de insatisfação (que nunca cessam na vida!) eu me vi ponderando. Eu não virei santa, mas passei a sentir a necessidade de assumir a responsabilidade dos meus atos. Isso dói, mas não se acende vela pra Pedro e se reza pra Paulo!
E tudo o que citei até aqui, saibam: são detalhes. A Umbanda em si, não vai lhe trazer um amor em três dias, mas vai lhe ensinar a amar a si e ao próximo. Não vai lhe trazer fortuna, mas lhe ensinar o exercício da humildade, pois o seu maior tesouro é a sua alma alegre por servir ao Sagrado. Também não sonhe com um emprego maravilhoso de imediato: ela ensina que devemos e podemos executar qualquer tarefa, desde que seja com amor. Ela ensina a SENTIR: sentir a energia do mundo, do irmão, do seu guia, do ORIXÁ. A umbanda aponta um caminho: pés descalços, passo firme pela terra destinada à evolução humana com trabalho e AMOR!
-texto escrito por Rachel G.-
