"Faz tempo... Faz muito tempo.
Eu apenas um garoto, Pai Joãozinho - o Babalaô consagrado - e dezenas de filhos da casa. As mulheres com suas nunangas engomadas (alvas como leite) cobertas pelo arco-íris colorido das roupas de santo e nosso destino: a Floresta da Tijuca.
Kelês, guias e brajás brilhando ao sol, já quase se pondo. Tudo o mais limpo, o mais colorido e mais caprichado para servir ao Caboclo da Pedra Preta, em meu primeiro trabalho na mata.
Na primeira encruzilhada o marafo, a farofa e o charuto “pro Sinhô da Encruza”. O padê foi servido e não faltaram os sete cravos vermelhos, pois que não se oferecem rosas “pra Exu Home”, assim como não se oferecem cravos pra “Bombo-Gira muié”.
Entre cantigas e ingorossis, ouvíamos as explicações de Pai Joãozinho que era, na verdade, “uma grande mãe” para todos nós:
-“Mininu, aqui num é buteco! Num joga pinga no chão. Faça oferenda... Faça despacho... Num faça sujeira!!!”
E ninguém, por mais pobre que fosse, tinha coragem de “arriar um agradinho sequer” que não fosse em alguidar de barro para comidas ou em um cuité para bebidas, tendo ainda que “botar toalha no chão”, pois Santo exige respeito!
Nem mesmo para Oxosse servia-se algo no chão. Para Ogum então, tinha que ter prato de ferro (os esmaltados eram os mais comuns) e as obrigações exigiam um esmero ainda maior. Lembro-me bem que nem folha de mamona era usada para Oxosse, mas sim a de taioba. Até mesmo a folha de inhame nova, tinha que ser bonita e sem rasgado, ou corríamos o risco de não serem aceitas.
Era uma época de ritos singelos e, ao mesmo tempo, elaborados. Serviam-se verdadeiras iguarias aos Orixás e aos Encantados. Os abebés, e as coroas não conheciam paetês nem lantejoulas. Eram de cobre, lata ou latão. Tudo muito singelo e bem mais autêntico.
Umbandista ou Candomblecista que se prezasse, tratava com o devido respeito as “coisas sagradas” e tudo o que era do Santo, do Orixá e até mesmo do Exu.
Lembro-me que a expressão “Macumbeiro” tornou-se pejorativa quando, em qualquer encruzilhada de terra, encontrava-se um alguidar com um frango ou galo (geralmente preto) e uma garrafa de marafo, cercados de sete velas e um charuto. Em lugares como Coelho da Rocha, Rocha Miranda e, principalmente, na porta do Cemitério Israelita de São João do Meriti da década de 70 em diante, víamos e percebíamos que oferendas feitas de qualquer maneira, sem cuidados e sem princípios, traziam (tanto para os Terreiros de Umbanda como para as Roças de Candomblé) um grande desprestígio.
Pensamos que isso havia acabado, mas se hoje encontramos oferendas bem cuidadas, com tudo que é devido à tradição afro, por outro lado, também encontramos verdadeiros absurdos. Por exemplo, no Reino dos Exus do SANTUÁRIO NACIONAL DA UMBANDA, já encontramos:
1. Copos descartáveis com salsichas e embalagens do McDonald’s com hambúrgueres;
2. Sem falar dos que chegam aos pés de Ogum e esvaziam no chão, sacolas de supermercado com feijão preto cozido;
3. Arroz e feijão aos pés de Oxum;
4. Aos pés de Iemanjá uma tainha e, às vezes, uma mísera sardinha, sem um pedaço de morim branco, sem um prato de louça ou barro. Tudo jogado no chão sem o menor cuidado. Outras vezes, entregam oferendas de Exu nos pés da cachoeira (a Casa de Oxum).
Será que não sabem a diferença entre Exu e Oxum??? Ou será que nunca aprenderam o que é a verdadeira Umbanda ou o verdadeiro Candomblé? O culto afro exige e merece respeito. Copos plásticos e/ou descartáveis e sacolas de plásticos não combinam com a milenar tradição Candomblecista e nem com a centenária Umbanda.
- “Mininu faça oferenda, não faça sujeira! Tratemos com respeito as divindades.”
Seja você Umbandista ou Candomblecista, não faça e nem permita que os seus façam sujeira na mata, na cachoeira, nos rios, nas vias públicas. Lembre-se do que dizia, com sua voz anasalada, o Rei do Candomblé:
-“Mininu... faça oferenda...não faça sujeira!”
Babalaô Ronaldo Antonio Linares
- Artigo retirado so site do Santuário Nacional de Umbanda – dia 04/04/2007
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